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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Um personagem contra o preconceito

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QUÍMICA
Um é o mau-caráter que passa por um processo de redenção. O outro é o chef de
cozinha que sonha em formar uma família. Juntos, Mateus Solano (à esq.) e
Thiago Fragoso se tornaram o centro das atenções da trama das nove
Os diálogos acima foram travados na terça-feira 7 em um programa que, tradicionalmente, prima pelo conservadorismo, a novela das nove. Foi visto por cerca de oito milhões de famílias brasileiras, se considerada a média de audiência nacional da trama no dia, de 40 pontos. A conversa seria mais um roteiro banal de novela caso os personagens envolvidos não fossem dois homens gays que se tornaram o principal par romântico da história – Niko, papel de Thiago Fragoso, e Félix, em interpretação magistral de Mateus Solano. A despeito do formato pouco liberal, “Amor à Vida”, da Rede Globo, tem hoje o primeiro casal gay protagonista de uma novela, justamente a do horário mais nobre da grade. Segundo a Globo, telespectadores chegam a ligar para a Central de Atendimento ao Telespectador (CAT) da emissora para se manifestar a favor da dupla. Em grande parte, os louros pelo sucesso do romance são de Solano. Com uma interpretação minuciosa, pendendo ora para o humor, ora para o drama, o ator de 32 anos fez o espectador torcer para o mau-caráter que, nessa reta final, tem expurgado seus pecados de forma convincente. “Félix conquistou o telespectador como vilão por ser engraçado, emotivo, impulsivo, contraditório, como, em última análise, todos nós somos”, diz o autor Walcyr Carrasco. “A performance de Mateus Solano tem tudo a ver com o êxito da história”, afirma Maria Immacolata Lopes, coordenadora do Centro de Estudos de Telenovela da Universidade de São Paulo (USP).
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EM CENA
O autor Walcyr Carrasco admite: inicialmente, Niko (à esq.) e Félix não formariam um casal.
Agora, telespectadores ligam para a Rede Globo pedindo que eles fiquem juntos
Mas há de se pesar outros fatores para o sucesso da dupla gay, principalmente a mudança da sociedade, em que a maioria heterossexual tem se tornado mais sensível a temas ligados ao universo LGBT. Em outros tempos, casais homoafetivos tiveram suas histórias modificadas por causa da rejeição do público – o caso mais emblemático foi o de “Torre de Babel”, exibida pela Globo em 1998, em que duas personagens foram mortas porque os espectadores não aprovaram o romance lésbico entre elas (leia mais na pág. 6). O próprio autor da novela, Silvio de Abreu, admite que, se fosse exibida hoje, a história não causaria tanta comoção. “Casais gays são uma constante nas tramas e já não assustam mais ninguém”, diz ele, que teve outros homossexuais em suas obras: Sandrinho (André Gonçalves) e Jefferson (Lui Mendes), de “A Próxima Vítima”. “A principio, a história deles havia sido vetada até pela emissora”, afirma. Não que o fato de Niko e Félix se envolverem tenha peso para mudar a sociedade ou indique que o preconceito está prestes a acabar. Mas, de alguma maneira, leva para os milhões de famílias que acompanham a trama diariamente um assunto que, em muitos lares, é considerado tabu. O interessante, no caso de “Amor à Vida”, foi que o romance homossexual parece ter sido uma vontade do público seguida por Carrasco, que não planejava, inicialmente, unir Niko e Félix. “Sou muito instável como o autor e justamente por isso é que hoje existe esse casal”, diz. Sempre atento às opiniões alheias, ele afirma que a mentalidade do País está mudando sim. “Casais formados por pessoas do mesmo sexo estão deixando de ser algo marginal à sociedade para entrar na legalidade.”

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