Por: Fernando Gomes(*)
Na noite de ontem (15), quando da visita que fiz à família de uns
amigos, deparei-me com uma cena lamentável. Estava ali uma mãe olhando
os pertences pessoais de seu filho. Saudade estampada no rosto molhado
de lágrimas. Coração partido, dilacerado. Olhar perdido. Sentimento de
impotência e descrédito no sentido da vida. Foi como percebi a Sra.
Maria Alice Sá, mãe do garoto Mailson Kelvin, brutalmente
assassinado por outro garoto, após ser abordado em roubo de um celular na noite do último dia 10 de julho.
Quem matou Mailson? Que jovens são esses? Por que? Por volta das 21h00,
fazendo-se acompanhar de sua namorada, foi abordado por dois menores
delinquentes que, apesar da pouca idade, já têm uma extensa ficha
criminal. Resultou num latrocínio, roubo seguido de morte. Crueldade.
Mailson apenas 16 anos. Os assassinos com a mesma idade, usuários de
drogas, pouca escolaridade e de família carente, engrossam as
estatísticas da violência decorrente da dependência química.
Mailson Kelvin
Que sociedade é essa que não protege, que não cuida dos seus jovens? Que
governos são esses que gastam milhões com propaganda de promoção
institucional (?) e pouco se importam com a causa das drogas? Certamente
podem vir agora e dizer que têm “projetos” para tal, mas olhando os
programas sociais aqui planejados no combate as drogas se percebe a
superficialidade e indiferença que se trata esta causa de saúde pública,
como deve ser encarada sim, caso de saúde pública!
A droga é hoje a patrocinadora de uma verdadeira guerra civil. Jovens e suas famílias entram em destruição
social de forma assustadora, sob o olhar complacente do poder público e nosso também. Pois se o Estado
Brasileiro, nas três esferas de poder (federal, estadual e municipal) não responde com uma política pública
séria de enfrentamento do problema, como nos organizamos para cobrar,
exigir que isso seja feito? Será preciso que uma cruel fatalidade como
esta te atinja também, me atinja também?
O nosso tecido social está fragilizado. A família impotente. Os narcotraficantes cada vez mais organizados,
audaciosos e violentos. O Poder Público omisso e até conivente...
Parei um pouco de escrever, pois uma notícia na TV me chamou a
atenção:"Policiais do DENARC/SP foram presos hoje por corrupção e apoio
aos traficantes, inclusive o chefe de investigação". Ora, o Denarc é o
Departamento de Repressão ao Narcotráfico do Estado de São Paulo,
montado há 25 anos, com aparato institucional invejável. Mas, não eram
eles que deveriam proteger a sociedade e prender os bandidos
Estavam do lado dos traficantes, passando informações privilegiadas... vá entender!
Isso nos coloca o quanto é grave o enfrentamento. Se não for um esforço
conjunto dos poderes públicos e da sociedade perderemos esta guerra, com
resultados estatísticos assombrosos. O tráfico e sua rede de
distribuição promove a mais cruel destruição humana. O jovem que entra
para o sub-mundo das drogas ingressa, quase sempre igualmente, no crime.
Destrói consigo a sua família e, na busca de alimentar o vício
rouba e mata, destruindo outras famílias.
É preciso compreender que se deve atuar em três frentes
concomitantemente: (I) repressão ao tráfico de drogas; (II) tratamento
da dependência química; (III) desenvolvimento de políticas públicas para
a juventude. Enquanto nossos representantes não compreendem isso, vamos
lamentar fatídicos episódios. Quantos jovens precisarão morrer para que
se encare o problema das drogas como um caso de saúde
pública e venha a produzir uma cidade mais humana e mais justa para todos???
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