Romário entrou em campo. Usava, se me permitem a pobreza
da imagem, não as sandálias da humildade e da timidez, mas as chuteiras
do artilheiro. E fez um gol de placa.
Denunciou
ao plenário da Câmara um fato que muitos de seus colegas certamente
ignoravam. E uns tantos outros fingiam ignorar — o que não é raro no
mundo político. Por interesse direto, ou por contar que seus colegas
façam o mesmo, quando for do seu interesse.
Romário simplesmente contou um episódio triste do mundo do futebol profissional.
Ignoro, lamentavelmente, seus nomes e partidos. A opinião pública merecia conhecê-los.
Acontece,
e a gente não sabia, que o Ministério do Esporte está preparando uma
medida provisória que concederá anistia a dívidas de clubes de futebol
do país inteiro, no valor de mais ou menos R$ 3 bilhões.
É a
soma do que devem ao INSS, ao Imposto de Renda e ao Fundo de Garantia —
que eles simplesmente, ousadamente, não pagaram nos últimos 20 anos. É
um dinheirão, que se explica pela soma dos juros ao longo desse tempão.
Provavelmente, é o maior escândalo na história da cartolagem do esporte
profissional brasileiro.
A
anistia, segundo o nosso craque — que agiu com coragem e sem nada ganhar
com isso, a não ser o ódio dos mandachuvas do esporte que é a paixão do
povo brasileiro — está sendo preparada pelo Ministério do Esporte.
Em
seu discurso-denúncia, Romário não revelou o que ficou acertado no
jantar que reuniu o presidente da CBF e parlamentares. Ninguém falou em
pagamento: discutiu-se apenas o encaminhamento da anistia.
É uma
vergonha, como poucas as que temos conhecido na vida pública
brasileira. E também, vale a pena repetir, um gol de placa do nosso
artilheiro.
I9/Fabiano Portilho
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